As cidades das "provincias ultramarinas" eram lindas, espaçosas e de ruas largas, casas com quintal e muro baixo, onde o tempo parecia não correr.
As cidades eram limpas, os lancis dos passeios pintados de branco e os jardins públicos arranjados.
Hoje é um desalento!
Mas minha experiencia de viver nas cidades de São Tomé, Bissau e agora em Dili, permite-me dizer que, apesar de tudo, vale a pena visita-las hoje!
Há vestígios de Portugal, do Portugal das décadas de 40 a 60, um pouco por todo o lado.
Conseguimos imaginar a tranquilidade e qualidade de vida que se usufruia no tempo da administração portuguesa, mesmo com as ruas esburacadas, sem iluminação pública e as casas degradadas.
No jardim da minha casa (de função)em Bissau, havia várias mangueiras, altas e de tronco largo e de uma delas caiam mangos que partiam as telhas do telhado!
Prometi um dia falar-vos de Bafatá, quem sabe se não é desta...
A foto que a Xana partilha connosco dá uma ideia de Bafatá, afinal, dentro do género das cidades das "provincias ultramarinas".
Não conheço o Quito, mas Bafatá deve ser mais pequena!
Tem uma rua principal que desce até ao rio (cujo nome não me recordo.
No cimo da rua, a Igreja de cor verde (tipo sul américa!) embora desconheça se se trata da cor original. É um edificio dos anos 40/50.
No fim da rua, de uns 200 metros, o mercado à esquerda, com um alçado onde sobressaem umas ogivas tipo árabe e um pouco mais ao fundo, a piscina - hoje sem água e desventrada - mas que "nos tempos" (como lá se diz) era cheia com agua do rio (talvez bombeada).
Em frente ao mercado, na esquina, um edifício arredondado com um enorme pombal. Essa rua segue depois com o rio pela esquerda até, não me lembro onde...
Da rua principal, saiem umas tres ou quadro ruas prependiculares para a esquerda e para a direita que vão dar a duas outras ruas paralelas à principal.
Na rua principal há um cinema, onde assisti a um dos jogos do europeu de 2002, com os "primos" todos à volta, a beber cerveja choca porque gelo para as arcas "ka tem!" (expressão em criolo que quer dizer, não há!).
Via-se num ecran gigante projectado de uma TV, alimentada a gerador, já que em Bafatá - tal como Bissau na maior parte das vezes - não há luz pública, pelo menos, desde 2000.
Os edificios estão degradados e num deles, na rua esquerda paralela à principal, vive um casal de portugueses que têm uma venda tipo a do Sr. Manel, no outro lado da Marchal Gomes da Costa, ali pertinho ao que é hoje a RTP (já se postaram aqui memórias dessa venda).
A residencia fica por cima e alugam-se quartos. O banho toma-se de caneco e à noite funciona a vela ou a lanterna a pilhas.
A senhora fazia uns bifes que sabiam pela vida!
Acho que o senhor se chama(va) Carlos e tinha uma escola de condução!
Estou a percorrer Bafatá de memória agora, enquanto escrevo!
Com uma saudade imensa e uma ternura ainda maior por essa cidade que dá nome à nossa rua e para onde ia tantas vezes ao fim de semana.
Uns três ou quatro quilometros antes de Bafatá, numa imensa savana, havia um acampamento de caça exoplorado por um português, o meu companheiro de muitas noites ao som de cigarras e outra bicharada, a beber wisky à luz do petromax!
O tal rio ficava lá mais à frente!
Nessas alturas - e foram tantas nos meus três anos de Guiné, noutros tantos locais do mato - sentia-me dono do mundo!!!
É uma felicidade inexplicável!
E lembrava-me do que sofreram os militares que ali deixaram anos das suas vidas... E sentia-me na pele dos aventureiros do principio do século que ali se instalaram... E não queria que aquele momento não acabasse nunca mais!!!
Já está piegas, desculpem!
Ficou um cheirinho de Bafatá!
beijos e abraços,
Joni
Virei brevemente, logo que tenha mais disponibilidade, a este tema "Livre Arbítrio", abordando a questão primordial: No mito de Adão e Eva será que decidiram por livre arbítrio comer o fruto proibido?
Luís