"Rua do tamanho do Mundo"

"Rua do tamanho do Mundo"

terça-feira, 29 de maio de 2007

A revolta do puto calmo!

Fogo, quem me conhecia, e ainda hoje, quem me conhece, sabe que sou das pessoas mais tranquilas ao cimo da terra.

Em 2003, no Iraque, no Hotel Palestina, dormia eu no saco-cama, no chão, e entram uns 10 filhos-da-mãe soldados americanos pelo quarto, arrombando a porta de entrada e desatam aos gritos: «Don´t Move!!!»

Bem, dormíamos naquele quarto uns 8 jornalistas, SIC, Visão, DN, JN, todos espalhados pelo chão...

Todos acordaram, refilaram com os americanos, e ficaram uns minutos a falar da cena depois de ter acontecido. Eu não me lembro de nada. Os meus colegas dizem, «bem, João Pedro, foi demais. Os tipos passam por cima de ti, apontam-te a arma à cara e dizem-te para ficares quieto, tu dizes, «OK», viras-te para o outro lado e desatas a ressonar...»

Bem, sou assim, o mundo pode estar para acabar... não me perturba.

E, como se lembram, quando éramos putos de 10 ou 11 anos, íamos ás compras e arriscávamo-nos a ficar sem nada. Aparecia um grupinho daquela malta simpática dos prédios de frente à rua, «Olha os putos das vivendaaaas!» e tá a andar.
Ou tinhas sorte e conhecias um daqueles gandulos do futebol, ou da escola, ou estavas lixado. Gamavam-te o dinheiro.

Um dia, estava eu na rua a brincar com o Zézinho, e quando vou para minha casa, vejo 3 putos pendurados na minha ginjeira da frente (bela árvore, enorme, ia até ao telhado, dava umas ginjas maravilhosas... um pouquinho amargas talvez...) a arrancar troncos.

Fiquei doido. Gritei, saiam daqui, vou chamar os meus irmãos... os putos saíram a correr e eu, que estava tão nervoso fui a correr atrás de um deles para lhe dar um murro, empurrei-o, o puto caiu e arranhou-se todo, mas eu tropecei nele e acabei por cair também. Só que, azar, caí com as mãos em cima de uns vidros de garrafa (isto a descer a rua, junto ao caixote do lixo que estava perto do portão grande dos Altininos (em frente ao Becas Stone).

Espetei os vidros na mão... era só sangue... cheguei a casa meti umas ligaduras à volta da ferida e desvalorizei.
Como nós fazíamos dantes. Agora os putos choram por tudo e por nada...

Ora, acontece que aquilo fez crosta, e fui andando assim, talvez uma semana. Um dia, começa a crosta a desfazer-se no banho, e vejo uma coisa a brilhar na ferida...

Olho com atenção e desespero: Estava lá um vidro espetado!!!
Bem, fiquei em pânico, contei a história toda à minha mãe e ao meu padrasto.
Ele era todo despachado, e bruto como as pedras, diz-me logo.
Espera aí, vou buscar o alicate...
Quê???

E foi assim. Segurou-me na mão, e com a outra a segurar o alicate, puxou-me o vidro, a ferida abriu outra vez, deitou sangue que se fartou, mas depois sarou.

Ainda hoje olho para esta cicatriz que tenho na mão... e imagino que há mais vidros lá dentro... (coisas de putos)

Uma história do «Joãozinho»

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